Quando dei por mim...
“Quando dei por mim já estava apaixonada”, diz a minha amiga, com ares de quem está realmente de rastos por um amor não correspondido. Pus-me a pensar no facto e de facto tem muito que se lhe diga. Acho que qualquer advogado aceitará defender esta grande amiga no tribunal social. É um caso de argumentação ultra fácil, afinal, ela só deu por si quando já estava apaixonada. Não estar no seu perfeito juízo ou estar alienado da realidade iliba qualquer um de uma pena, seja ela qual for. Ela não tinha dado por si e quando deu já o facto estava consumado: Deu por si apaixonada.
Este “quando dei por mim” já ilibou muito boa gente: Quando dei por mim, vi, na minha frente, aquela que dizem ser minha mulher, estendida no chão a sangrar com duas facadas no vente e três nos pulmões...; Quando dei por mim, tinha estourado todo os haveres que ao longo dos anos o meu pai fora amealhando...; Dei por mim dentro de uma baneira com gelo enquanto, no enorme espelho da suite, uma mensagem escrita em batom vermelho avisava-me para não sair do gelo até que uma equipe médica chegasse. Porra!, dei por mim sem os dois rins.
Neste “dar-se por si”, o rapaz que a fez apaixonar-se sem que ela desse por ela é que é um verdadeiro malandrote que merece a cadeia e todos os apupos sociais. É que julgo ser de fácil percepção para qualquer homem que se preze sentir que uma mulher está a apaixonar-se sem estar a “dar-se por si”. Só um rapaz muito mal intencionado, como foi o caso, é que deixaria uma situação destas acontecer, ou, nos casos mais extremos, conseguiria tirar algum tipo de partido dela, sem lhe pôr travão.
Anda muita gente neste mundo que ainda não “se deu por si”. Vivem vigilantes para não acordarem, para não “darem por si”. Quantas vezes não fazemos ou evitamos fazer as perguntas devidas para não escutarmos a fatalidade de algumas respostas merecidas? Uma fatalidade que o único mal que nos faz é acordar-nos para a realidade, é fazer “darmo-nos por si”.
É este “dar-se por si” que faz girar o mundo, ainda que, por vezes, seja numa rotação em sentido contrário. Só aos pulos se avança! A minha amiga pode estar muito mal mas deu por si quando quis ouvir as respostas que havia para ouvir mesmo na ausência perene das suas perguntas. Para se “dar por si”, este “si” que só nos traz uma coisa tão fatal como a realidade, existe uma e só uma receita, muito simples pelo sinal: Fazer as perguntas certas - Muitas vezes nem é preciso perguntar, basta observar.
No caso desta amiga, só tem é que estar feliz: “Deu por si apaixonada”. Há quem dê por si morto, com uma trombose, entrevado numa cama, paralítico, político!, etc. Eu, que nunca morri mais do que nos momentos em que me finjo morto, acho que acordar morto deve ser muito pior, ainda que menos doloroso, do que “dar-se por si” apaixonado. Mas, porque não sou alguém para achar o que quer que seja, dos dois “dar-se por si” que venha o diabo e escolha!
4 Bocas:
Perfeito ! : )
Silvia
Normalmente apaixonamo-nos sem darmos por isso...é o coração a sobrepor-se à razão. A razão só aparece quando começamos a "darmos por nós"...
Todos nós "damos por nós"...mas, quando já lá estamos! Umas vezes é muito bom e queremos que nunca acabe, outras vezes, sentimos raiva e pensamos:"porquê comigo?"...mas um dia passa e foi apenas mais um "quando dei por mim...".
Acho que é a "dar por nós". :P
Sinto-te Siderado.
Sentes-te mágico. Especial.
Ela contou-te. (risos)
Guiou-te no seu íntimo e o saber da paixão que ela sente, percorreu-te.
Foi viagem espiral, veloz.
Sorriso interior, arco-íris de mil cores.
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